Na cozinha havia sempre um frasco de vidro grande, com uma tampa verde, cheio de bolinhos de nata. Durante toda a semana a minha avó guardava as natas do leite que ficavam no coador para fazer estes bolinhos – nesse tempo o leite tinha “peles” que era preciso coar. E todos íamos ao frasco várias vezes durante aquelas tardes de Domingo. Comíamos fruta do quintal e ninguém estava muito preocupado em saber se as crianças tinham lanchado. Era bom ser assim livre, uma tarde por semana.
A tarde acabava quando começava o “Espaço 1999”. Todos os primos queriam ver (até a Isabel) e eu ficava sem companhia e sem perceber como é que podiam gostar de ver aquilo.
Era a minha hora de ir até à cozinha onde já se preparava o jantar – sonhos de bacalhau era a ementa do jantar de Domingo. Adorava ver como se transformava quase nada de bacalhau, farinha e ovos naquelas bolas enormes e tão boas. Quando a massa ficava pronta, a minha avó ia para o fogão fritar sonhos e era a hora de ir embora. Toda a gente passava pela cozinha para se despedir e pegar num sonho com a mão, a soprar muito para não queimar.
Todos os Domingos eu tinha esperança de ficar a jantar em casa da avó, e nunca ficávamos. Comia o meu sonho a caminho de casa, a pensar que se calhar era no próximo Domingo que lá jantava.
Os anos passaram e a casa ficou vazia. Os Domingos em casa da avó já não têm sonhos, mas o sonho de trazer vida de novo à casa não desapareceu com o tempo. Cresceu dentro de mim e hoje, muitos anos e três filhos depois, abri a porta da casa da minha avó de novo. Voltou o cheiro a biscoitos, há vida outra vez. Esta casa é agora a casa da minha empresa: Conto – Produtos Portugueses.
Na cozinha as manhãs começam cedo. Fazem-se biscoitos e tartes de maçã, embalam-se e enviam-se para outras mesas e outras famílias. Da nossa equipa para a sua família, os nossos produtos são preparados com o rigor de hoje, os melhores ingredientes e o sabor de sempre.